sábado, 2 de junho de 2012

Pe. Ezio: "Se os jovens não mudarem o mundo, ninguém o fará."

A evangelização dos jovens na Diocese de Campo Mourão, ao longo de sua história, tem contado com diversos protagonistas que, com empenho, gratuidade e muito amor, dedicam-se à promoção da juventude. Um dos rostos de maior destaque neste processo, sem dúvida, pertence ao padre italiano Ezio Lorenzo Bono, religioso da Sagrada Família de Bérgamo, e que atuou como assessor diocesano da Pastoral da Juventude nos anos 90 e fez surgir para a Igreja e para a sociedade inúmeras lideranças, por meio de um trabalho consistente de formação e acompanhamento (inclusive financeiro) dos jovens. Neste período, para se ter uma ideia da efervescência resultante dos seus esforços, Padre Ezio conseguiu nuclear, só em Peabiru, pelo menos quatro grupos juvenis atuantes ao mesmo tempo. O número de coordenadores dos grupos de Peabiru, sua comunidade de então, chegou a ultrapassar 50! Não é à toa que, mesmo após quase duas décadas, sua carismática figura continue a ser lembrada como modelo positivo para a Igreja Diocesana quando o assunto é evangelização juvenil. Doutor, Bono reside atualmente em Moçambique, onde continua a dedicar sua vida à juventude, dirigindo uma universidade da qual é fundador. Mesmo com um copioso currículo missionário, engana-se quem pensa que ele se dá por satisfeito. Sua meta agora é a Índia. Em bom português moçambicano, o "Poderoso Chefinho" ― apelido que ganhou por aqui ― conta um pouco da sua caminhada, nesta entrevista concedida ao Setor Juventude.


1. Quem era o jovem Ezio Lorenzo Bono, antes de optar pela vida religiosa?
Toda a minha vida foi dentro da Igreja (entrei no seminário menor com 11 anos de idade!) e por isso não consigo pensar-me diferentemente daquilo que sempre fui na vida inteira: um cristão! Não há um “antes” e um “depois”, sempre fui o mesmo!

Santa Paula Elisabete Cerioli, Fundadora da Congregação da S. Família.
2. O que fez com que o senhor aderisse ao carisma de Santa Paula?
No começo quando entrei no seminário, não estava claro o que era o Carisma da Congregação. Com o passar dos anos e com o aprofundamento dos estudos, fiquei apaixonado pelo Carisma da Santa Paula Elisabete que visa a educação das crianças mais desfavorecidas, e a educação da juventude ao sentido da família. É isso o que fiz na vida inteira.

Na Cidade do Cabo, na África do Sul.
3. É rica a sua trajetória como missionário: faça-nos um resumo dela até aqui.
Desde quando fui ordenado padre prestei serviço na Itália (províncias de Bérgamo, Milão e Pavia); no Brasil (Peabiru); na Suíça (Giornico) e no Moçambique (Maxixe), sempre trabalhando com a juventude. Espero de continuar a trajectória missionária indo para a Índia.

Encontro de Formação em Doutor Camargo em 1995.
4. A sua presença na Diocese de Campo Mourão, na década de 90, dinamizou a evangelização da juventude e fez suscitar várias lideranças. Ainda hoje, o seu trabalho juntos aos jovens é apontado como referencial. Qual é o segredo?
Não sabia que ainda estão a se lembrar de mim. Bom, eu acho que trabalhar com a juventude é essencialmente um problema de comunicação: devemos procurar tocar o coração deles para que percebam que acreditar em Deus é a coisa mais importante e linda que podemos fazer na nossa vida. O segredo? É sentir um amor profundo pela juventude: os jovens percebem logo quando são amados por alguém.

Com jovens de Maxixe.
5. Como tem sido a sua experiência missionária em Moçambique?
Cheguei em Moçambique em 1998 e até hoje estou a viver uma experiência muito intensa de apostolado e trabalho com a juventude. Nos primeiros anos como responsável do Centro Juvenil de Maxixe onde animava a Pastoral da Juventude e catequese de milhares de jovens, e naquela altura eu era também responsável diocesano da Pastoral da Juventude. Nestes últimos 7 anos como Director, dirigindo  a Universidade que tem mais de 2000 estudantes e 110 docentes; como Professor Doutor, leccionando filosofia e teologia contemporânea e africana.


6. Em que precisamente os jovens brasileiros e moçambicanos se assemelham e se distinguem?
Eu acho que os jovens do mundo inteiro se semelham bastante. Todos têm a mesma vontade de viver, de estudar, de divertir-se, de amar, de lutar, de sonhar… Os jovens brasileiros têm mais condições para realizar os seus sonhos. Os jovens moçambicanos devem sacrificar-se muito mais para poder ver os seus sonhos realizados. Todos porém são maravilhosos!

Com Sandra Bazzanini, ex-coordenadora da PJ.
7. O senhor se considera um padre progressista? Como encara o avanço das Igrejas Evangélicas brasileiras na África? 
Eu me considero um padre da Igreja Católica! O avanço das igrejas evangélicas deve ser um motivo de grande reflexão dentro da Igreja Católica, especialmente para  rever a sua capacidade de comunicar com as pessoas.


8. O senhor dirige uma importante universidade em Maxixe que ajudou a fundar. O que lhe motiva a levar adiante uma instituição deste porte? O que um curso superior pode agregar à vida do jovem?
O motivo principal que nos levou a trabalhar para a Universidade, é dar a possibilidade de acesso ao ensino superior a milhares de jovens que doutra maneira não poderiam acessar. O Moçambique tem uma percentagem muito pequena de jovens universitários, e isso é uma das causas da sua pobreza económica. Sabemos que as grandes revoluções no mundo frequentemente partiram das universidades. O Moçambique está à espera destes novos jovens muito inteligentes que possam revolucionar o País.

Missa à sombra de uma árvore.
9. A diocese de Campo Mourão escolheu os jovens como assunto prioritário. Além disso, a Igreja no Brasil está na expectativa da Campanha da Fraternidade sobre a juventude e da celebração da Jornada Mundial em 2013 no Rio. Que mensagem o senhor deixa aos jovens brasileiros?
Anos atrás a Legião Urbana cantava “O Brasil é o País do futuro”. Cabe aos jovens lutar para que o Brasil seja o País do presente: se não são os jovens que mudam o mundo ninguém o fará.


10. Bate-bola rápido:
Prato favorito: Sem dúvida: Pastasciutta!
Um time: Atalanta.
Uma saudade: O Brasil!
Um ídolo: Nelson Mandela.
Um sonho: Ser missionário na Índia.
Um arrependimento: Não ter amado muito mais.
Um santo: João Paulo II
Uma banda musical: U2
Um lugar: Moçambique!
Uma citação: “Solo l’amare, solo il conoscere conta. Non l’avere amato, non l’aver conosciuto”


Nosso agradecimento sincero a Padre Ezio pela atenção em conceder-nos esta entrevista e nosso reconhecimento pela frutuosa presença na Diocese de Campo Mourão. Deus lhe pague!
Fábio Sexugi

3 comentários:

  1. Incrível esse depoimento de Pe. Ezio.

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  2. Um testemunho vivo de alegria, fé, perseverança e, acima de tudo, esperança na juventude.

    E para melhorar, a foto linda com a Tatá.

    E ainda curte U2! Sensacional!

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  3. "Os jovens moçambicanos devem sacrificar-se pelos seus sonhos" - uma mensagem que me toca...não passa despercebida!

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