Marco na evangelização da juventude, o Documento 85 da CNBB propõe à Igreja do Brasil “motivar no jovem o diálogo inter-religioso e a abertura para a irrenunciável dimensão ecumênica da vida cristã” (133). Por esta razão, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, o Setor Juventude da Diocese de Campo Mourão entrevistou o Pastor Lidio Zschornack. Gaúcho e de origem germânica, ele mora em Mamborê e é membro da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) desde pequeno. Apesar dos cabelos brancos, o Rev. Lidio demonstra muito entusiasmo e juventude, que podem ser facilmente constatados na sua abertura aos novos desafios, como um outro curso superior, além da desenvoltura nas mídias sociais. Às vésperas de completar 64 anos, ele conta um pouco da sua trajetória de vida nesta entrevista.
1. Pastor Lídio, conte-nos um pouco da sua história.
Primeiramente, obrigado, Prof. Fábio Sexugi, pela oportunidade que você e o Setor Juventude me dão para essa entrevista. Nasci aos 25 dias de maio de 1948 em Pelotas, RS, trabalhando com meus pais na roça até aos 13 anos de vida. Sou de uma família de 4 irmãos e uma irmã.
Com os colegas do Seminário Concórdia de Porto Alegre, em 1960. |
2. Como nasceu no senhor o interesse em se tornar pastor?
Naquela época (13 anos), por incentivo dos meus pais e de um pastor, que nos visitara, peguei minhas malas e fui estudar num internato (Seminário Concórdia) em Porto Alegre, RS. Ali, com 14 anos, comecei a cursar o antigo Curso Ginasial (5ª a 8ª série do Ensino Fundamental), Colegial (Ensino Médio) e, por fim, o Curso Teológico (4 anos).
O 4º, na 1ª fila, da esquerda para a direita, com 20 anos, no seminário. |
3. Em termos acadêmicos, quais cursos são necessários para alguém ser ordenado pastor da Igreja Luterana?
No curso de Teologia: Isagoge = Introdução aos livros da Bíblia, seus autores, quando foi escrito, tema; Exegese = análise de texto bíblico; Homilética = como fazer uma mensagem, homilia; Dogmática = estudo das doutrinas bíblicas; História das Igrejas: seu surgimento e suas doutrinas; Estudo do Hebraico; Grego; Latim; Noções básicas sobre Psicologia, Filosofia e Sociologia, etc.
Inauguração da nova Igreja Luterana em Mamborê em 2010. |
4. É difícil ser pastor protestante num país de maioria católica?
Não é difícil, porque a receptividade do povo brasileiro é boa. Pessoalmente, no meu pastorado, tenho tido experiências gratificantes com a Igreja Católica e vice-versa, com também com as demais igrejas cristãs tradicionais. Em muitas oportunidades no meu pastorado, atuei ao lado de padres e outros pastores em cerimônias como as da Semana da Pátria, Aniversário do Município, devocionais nas escolas, Dia da Bíblia, e festas das igrejas. Eu sempre tenho esse lema: Respeito todas as igrejas cristãs, para que a minha seja respeitada também.
Com o neto Leonardo. |
5. Atualmente o número de evangélicos no Brasil ultrapassa 20%. Paralelamente, porém, acontecem fenômenos curiosos, como o surgimento de uma nova categoria: os assim chamados "evangélicos não-praticantes"; além disso, percebe-se também uma migração cada vez mais freqüente de fiéis do Protestantismo Histórico para Neo-Pentecostalismo. Como o senhor avalia esse contexto?
Conforme pesquisas, um número razoável de fiéis historicamente protestantes estão migrando para o Neo-Pentecostalismo, porque procuram soluções que muitas vezes não encontram no Protestantismo Histórico. Na minha Igreja Luterana (IELB), a participação regular e efetiva dos fiéis nos cultos e na Eucaristia não chega a 40%. As igrejas devem rever sua postura como igreja, rever sua atuação e se envolver mais fortemente nas questões sociais.
Falando aos jovens durante congresso. |
6. Como fruto de um intenso diálogo ecumênico e depois de séculos de hostilidade mútua, a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica assinaram em 1999 um documento histórico: a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, afirmando que as confissões luterana e católica professam a mesma doutrina sobre a justificação pela fé, ainda que com desdobramentos distintos. À parte disso, é fácil falar de fé e justificação numa sociedade cada vez mais secularizada e indiferente aos valores cristãos?
Não é fácil, porque muitas pessoas desejam soluções para o agora, para o palpável. Elas procuram igrejas que enfatizam curas físicas, conseguir um bom emprego, ter o carro do ano, etc, e essas pessoas se esquecem de que devem "buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas serão acrescentadas", conforme recomendação do Salvador Jesus no Evangelho de Mateus (6,33).
Com os colegas do Curso de Letras. |
7. O senhor está cursando Letras na Fecilcam. Como tem sido essa experiência?
Como aposentado, e com 64 anos, me sinto feliz e bem entrosado com meus colegas bem jovens. É uma experiência altamente gratificante estar sentado ao lado de colegas de mente aberta e com novas ideias. Também vale ressaltar que praticamente todos os meus professores são bem mais jovens do que eu. São ótimos comunicadores e têm um profundo domínio da matéria que lecionam.
Teatro durante o Vesper Romanae, mostra cultural de Latim da Fecilcam. |
8. As mídias sociais, como o Facebook, fazem parte da sua vida cotidiana. Conte-nos um pouco sobre isso.
Eu sou fã do Facebook, (também do e-mail) como também você, Prof. Fábio, o é. Gosto de me comunicar com as pessoas e isso me traz um tremendo bem interior. Considero-me jovem, mesmo com todos os meus cabelos brancos. Sempre penso assim: jovem é aquele que, mesmo idoso, tem DEUS em sua vida, cultiva novas amizades, aprecia novas ideias, interessa-se de fato no bem estar do semelhante, sabe ouvir atentamente as angústias do próximo, ama e cuida da natureza, participa com olhar crítico das ações políticas seja no município e em outras esferas.
Em entrevista à Rádio T em Mamborê. |
9. Estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Jesus orou ao Pai “para que todos sejam um” (Jo 17,21). O senhor acredita que esta prece de Cristo está perto de ser realizada? A unidade é possível?
Acredito, sim, desde que todos nós saibamos afastar o que impede a nossa aproximação.
10. Inter ou Grêmio?
Eu sou Inter de coração, graças a Deus... kkkkkkkk E estou em constante reza para que ele seja campeão nesse ano no Campeonato Brasileiro.
Obrigado, amigo Fábio Sexugi, meu professor de Latim, pela oportunidade concedida.
O Setor Juventude agradece de coração ao Pastor Lídio pela disponibilidade em conceder-nos esta simpática entrevista nesta semana tão significativa para os cristãos. Como disse o Papa Bento XVI durante visita à Igreja Luterana de Roma em 2010, o papel dos discípulos de Jesus Cristo é “mostrar ao mundo sobretudo isto: não as brigas e conflitos de todo o tipo, mas a alegria e a gratidão pelo fato de que o Senhor nos doa tantas coisas e porque existe uma unidade real, que pode tornar-se cada vez mais profunda e que deve tornar-se sempre mais um testemunho da palavra de Cristo, da via de Cristo neste mundo”. Por toda a diocese, são diversos os exemplos positivos de colaboração e respeito mútuos entre jovens católicos e luteranos em ações sociais, apresentações de teatro e atividades desportivas que vislumbram para nós uma unidade possível, na qual as divergências são respeitadas e aquilo que nos aproxima é enfatizado: a fé no mesmo Senhor. Ao Pastor Lídio, nosso abraço fraterno e nossa prece.
Fábio Sexugi
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