domingo, 13 de maio de 2012

Entrevista com o Prof. Antônio Carlos Aleixo, diretor da Fecilcam

Historicamente, a Diocese de Campo Mourão destaca-se pela formação da juventude. Tem sido assim desde a década de 70 quando, por impulso do Concílio Vaticano II e da abertura que o decreto Apostolicam Actuositatem dava aos leigos, diversas paróquias contavam com grupos de jovens. Nos anos 80, no entanto, é que se consolidou a evangelização juvenil, por meio da adoção de ações mais articuladas resultantes da implantação da Pastoral da Juventude e da formação integral do jovem que esta propunha. Foi um período riquíssimo para a história diocesana, uma vez que fez suscitar inúmeras lideranças – jovens idealistas comprometidos com a assim chamada Civilização do Amor (Puebla 1188) – cuja militância continua a abrir caminhos ainda hoje.

Tal é o caso de Antônio Carlos Aleixo, mais conhecido como Prof. Carlinhos. Ele é o diretor da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam). O que pouca gente sabe é que ele foi um importante coordenador diocesano da PJ e ajudou a expandi-la para as diversas comunidades. Entrevistado pelo Setor Juventude, ele conta um pouco dessa sua experiência e sobre outros assuntos.


1. Professor Carlinhos, conte-nos um pouco da sua trajetória de vida.

Primeiro gostaria de expressar minha alegria em responder a essas perguntas para o Setor Juventude. Bem, eu nasci em Luiziana, em 1967, numa localidade chamada Bairro dos Paulistas. Nasci de parteira, numa casa com chão batido e telhado de taboinhas, feita pelo meu próprio pai. Tenho o maior orgulho da minha família por isso. Meus pais me criaram com muita simplicidade. Estudei até a terceira série na zona rural, depois nos mudamos para a cidade de Luiziana, onde ficamos até eu completar o Ensino Médio. O estudo dos filhos foi a rota geográfica da família. Comecei a trabalhar registrado com 14 anos, numa biblioteca escolar. Em 1985, vim para Campo Mourão, para fazer curso superior. Na época a Fecilcam era Facilcam e nós pagávamos para estudar. Fiz Letras. Fui professor da Educação Básica até 2003 e agora sou professor do Curso de Letras da Fecilcam, antes de tudo. Estar na direção da Faculdade é conjuntural.

2. Na década de 80, o senhor foi coordenador diocesano da Pastoral da Juventude. Em que essa experiência colaborou na sua formação pessoal?

Quando eu vim para Campo Mourão, comecei a participar da JUCAM - Juventude Católica de Campo Mourão, na época um grupo de jovens da Capela (hoje Paróquia) São Francisco de Assis. Já havia sido catequista em Luiziana. Minha família é toda de confissão católica. Fui coordenador da Jucam, quando em 1986, 1987 comecei a participar da Coordenação Diocesana da Pastoral da Juventude. Foi um período de muita força nos grupos de jovens de Campo Mourão, com vários padres apoiando, muitos eventos. Estive ligado à PJ até 1989. O Cristianismo me ensinou a solidariedade, me ensinou a repartir, me influenciou demais na minha formação política posterior. Posso garantir que o Cristianismo me abriu caminho para a frutificação das teorias socialistas no meu coração e na minha mente. Às vezes eu me pego com a metodologia do VER-JULGAR-AGIR no meu cotidiano de professor e administração público.


3. Os jovens da região de Campo Mourão enfrentam diversos problemas sociais: evasão escolar, violência, gravidez precoce, desemprego e vulnerabilidade às doenças infecto-contagiosas e às drogas. De que maneira a Fecilcam tem colaborado para reverter essa situação?

A Fecilcam faz muito pouco para tematizar esses assuntos. Com relação à evasão escolar, implantamos uma assessoria para cuidar disso, na Fecilcam. E hoje, nossa principal meta, é colocar o ensino em primeiro lugar para discussão, porque achamos que no campo da pesquisa e extensão, a Fecilcam já está em fase de consolidação de políticas. Na verdade, qualquer Instituição de Ensino Superior faz bem pouco para temas específicos assim. Espera-se que o trabalho realizado pelo ensino superior dê conta de produzir cultura mais elaborada, mais desenvolvida, nos jovens e a partir de então, esses jovens desenvolvam-se plenamente.


4. A maioria dos alunos da Fecilcam e das demais instituições de Ensino Superior de Campo Mourão é composta por jovens. O que um curso de graduação acrescenta na vida do jovem e da sua comunidade?

Há pesquisas que mostram o efeito do Ensino Superior na vida de uma pessoa. Primeiro, o Ensino Superior colhe o ser humano, geralmente, na fase de definições pessoais e profissionais. Segundo, que o Ensino Superior ensina, além da profissão, a intelectualização científica, para além do senso comum. Isso é muito importante, pois um jovem que despreza o senso comum é mais crítico, mais ativo, menos preconceituoso, mais solidário. O Curso Superior tende a ensinar a não agir de qualquer maneira, numa situação conflituosa, por exemplo. Ensina a ter menos medo, a raciocinar melhor. E isso tudo ajuda sempre. Sem contar com a melhoria salarial.


5. Como diretor da Instituição, o senhor criou políticas que facilitam o acesso dos jovens ao Ensino Superior, reduzindo o valor da inscrição para R$ 50,00 e implantando um programa de isenção dessa taxa. Quem pode ser beneficiado por este programa? Essas iniciativas têm dado bons resultados?

Tem. Nós conseguimos ampliar em 50% o número de inscritos para o vestibular desde que abaixamos o valor da inscrição. O ideal seria o fim do vestibular, mas isso ainda é impossível. Bom se todos pudessem fazer curso superior. E criamos um grupo de trabalho muito ativo, que sair para as escolas divulgando o vestibular. Muitos ainda pensam que a Fecilcam é privada e que tem que pagar para estudar ali. Na verdade, introduzimos a cultura de que vestibular não é para a Fecilcam ganhar dinheiro.

Construção do novo campus da instituição.
6. A Fecilcam está comemorando seu 40º Aniversário no momento em que constrói seu novo campus (próximo ao Seminário São José). Que leitura o senhor faz da importância da Fecilcam para a região até agora e o que sonha para ela no futuro?

A Fecilcam sempre foi muito importante para os jovens trabalhadores da região que desejaram fazer curso superior. Depois da gratuidade, mais importante ainda. E agora, nos últimos dez anos, mais ou menos, quando iniciamos o trabalho de priorizar também a pesquisa, a iniciação científica, temos produzido uma inteligência que atinge a pós-graduação e isso tem levado, por exemplo, jovens trabalhadores, filhos de trabalhadores, a concluírem o doutorado, por exemplo. Temos vários exemplos dessa experiência. Algumas pessoas pensam que é por "força pessoal", "sorte", "destino", mas são as condições sociais que pressionam, inclusive, os desejos pessoais, na minha opinião. Onde há otimismo, avançamos. Onde há incentivo, avançamos. Quando vemos pessoas inteligentes, queremos ser iguais. Funciona assim também.


7. Afinal, professor, Capitu traiu Bentinho?

Para o Bentinho, traiu. Mas ele era advogado. Eu não tenho certeza.

A coordenação do Setor Juventude da Diocese de Campo Mourão agradece vivamente ao Prof. Antônio Carlos Aleixo não apenas pela gentileza da entrevista, mas, sobretudo, pela relevante contribuição no acompanhamento e formação dos jovens e pelo apoio aos diversos eventos da juventude diocesana. Diante de tantos desafios que os jovens enfrentam hoje em dia, a parceria solidária entre os vários setores da sociedade – como sugere o Doc. 85 da CNBB (235) – é uma alternativa segura para acelerar a construção de uma sociedade mais justa e fraterna: o Reino de Deus tão sonhado. Ao Prof. Carlinhos nosso abraço e reconhecimento.
FÁBIO SEXUGI
Coord. diocesano do Setor Juventude

2 comentários:

  1. Parabéns pela entrevista Carlinhos, relembrar de onde viemos nos faz refletir sobre toda a caminhada que fizemos para chegar onde estamos. Abraço querido companheiro.

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  2. Parabéns Carlinhos por sua contribuição significativa ao desenvolvimento pessoal, profissional, social, enfim, ao desenvolvimento humano e científico dos jovens de nossa região. Ainda me lembro de quando você ia a Quinta do Sol fazer palestras ao grupo de Jovens do qual eu participava. Foi um tempo muito bacana. Que Deus te abençoe sempre em todos os seus caminhos. Obrigada por compartilhar sempre seus conhecimentos e suas histórias de vida, sempre aprendemos uns com os outros. Um grande abraço. Profa. Maria Izabel Rodrigues Tognato (Belinha)!
    Letras - Língua Inglesa
    UNESPAR/FECILCAM - Campus de Campo Mourão - Pr

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