“Refletindo, nos daremos conta que muitas vezes não vivemos a nossa vida, porque estamos imersos em tempos que não existem mais: ou na saudade ou no arrependimento... Na verdade, o único tempo que possuímos é o momento presente, que deve ser vivido interiormente para que seja aproveitado na sua integralidade. Vivendo assim, certamente as pessoas se sentirão livres, porque não serão mais esmagadas pela angústia do passado e nem pelas preocupações com o futuro.” (Chiara Luce¹, 1989)
Com dezoito anos, Chiara aprofunda um tema que já há dez anos antes tinha tratado com uma maturidade incomum para uma garota da sua idade: fala do risco de uma vida não vivida, de lembranças, lamentos, e de uma única chance para possuir plenamente o próprio tempo: vivê-lo interiormente. Com oito anos, tinha escrito “com justiça e com bondade”; com dezoito, “interiormente”: a essência é a mesma.
Na adolescência, Chiara não é somente uma garota inspirada que se tornou maior de idade; antes, é uma criatura que, no curso dos anos, jamais abandonou esta estrada e agora, na doença, está recolhendo os frutos lhe permitem viver interiormente a própria vida e carregar, a cada dia, a sua cruz. A inocência pura e fresca de uma menina se manifesta, progressivamente, numa consciência surpreendente. Aquilo que ocorre nos últimos anos tem pouco a ver com “educação” ou “ensinamentos” (ainda que sejam importantes), mas, ao contrário, é algo muito mais próximo do que se possa definir, precisamente, como “fruto”. O que se manifesta em Chiara parece o resultado de um costumeiro e pessoal encontro com o seu Mestre: ela vive, assim, o seu tempo.
Renunciar a viver o tempo presente significa perder o fundamento próprio da vida plena. Se isso ocorre, cria-se um vazio na própria existência e há, então, a necessidade de fuga: seja nas lamentações do passado, seja nas preocupações do futuro. Chiara era discreta e não ostentava a própria fé, mas soube corresponder deste modo à graça que fez dela uma testemunha, em particular durante os 25 minutos nos quais, diante do peso da cruz, recolheu todas as suas forças necessárias para confiar ao Senhor as suas dores. Levantando, então, o olhar, e fixando-o na cruz, diz: “Se você quer, Jesus, eu também quero”.
Estava pronta.
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¹ Chiara Luce Badano foi beatificada em 2010. É a padroeira da 5ª Jornada Diocesana da Juventude.
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