Era uma tarde fria de sábado de 2005. Eu era coordenador paroquial da PJ em Peabiru. Seguíamos de busão – uns amigos de Araruna e eu – para Campina da Lagoa, onde aconteceria uma formação. Do encontro em si, para ser sincero, não lembro muita coisa: só sei que fiz uns amigos da PJMP de Paranavaí (com quem compartilhei boas piadas) e só. Nem sequer o tema me vem à memória. Isso, porém, pouco importa, porque, naquele dia, o que me marcou mesmo para sempre foi uma imagem que vi da janela do ônibus ainda a caminho de Campina: uma mocinha franzina, encolhida de frio, às margens da rodovia, à espera de mais uma carona.
Ana com a equipe de elaboração dos projetos da prioridade "Juventude". |
“Ela também tá indo pro encontro”, disse alguém que seguia conosco e que conhecia Ana de Oliveira, então coordenadora da PJ de Barbosa Ferraz, uma santa de carne e osso que tenho o privilégio de ter conhecido naquele dia e que me serve de exemplo desde então. “Que coragem! Ela pegou três caronas pra chegar até aqui”, era o pensamento recorrente na minha cabeça durante aquele final de semana. Uma menina magrinha e pequena, mas com grandes ideais e com uma força de vontade e com uma simplicidade ímpar que me impressionaram muito.
Depois daquele dia, aos poucos, fui entendendo que a força e a humildade da Ana, que continuamente me impactam, vêm da sua amizade íntima e verdadeira com Jesus. Isso se confirmou para mim em meados de 2010, quando ela foi diagnosticada com uma enfermidade progressiva e severa que a impossibilitava, já naquela época, de, por exemplo, fazer alguns movimentos e que vem lhe causando até hoje dores agudas. Nem isso, contudo, lhe privava do seu compromisso como coordenadora da juventude, cujas atribuições cumpriu, mesmo nas suas limitações físicas, até o final da sua investidura. Para se ter uma ideia, só no finalzinho de uma reunião, em Campo Mourão, é que a Ana me confidenciou que estava suportando calada uma dor forte desde o início do encontro e que as viagens que fazia desde Barbosa estavam cada vez mais difíceis de aguentar, dado o seu estado físico.
Mesmo doente, Ana sempre acompanhou com carinho e atenção os trabalhos da sua pastoral, seja enviando cartas às bases, nas quais não poupava cobranças quando estas eram necessárias, seja na coautoria dos projetos da prioridade “Juventude” do 19º Plano Diocesano da Ação Evangelizadora, seja ainda telefonando para os coordenadores paroquiais tentando seguir de perto um rebanho que – ela sabia – não era seu. Detalhe: ela não tinha telefone nem internet e se virava nos trinta para dar conta do recado. Só quem cultiva uma amizade tão profunda com Jesus, só quem ama a juventude pra valer sabe fazer essas proezas com tão pouco. A Ana sabe.
1ª Gincana da Juventude em Peabiru - 2010 |
Outra coisa que ela nos ensina é que não se deve tirar vantagens do cargo de coordenador. Ao contrário, quem faz a experiência que Ana fez com Cristo entende que o verdadeiro líder tem pouco de status e muito de empenho, de oração, de suor, de preocupação, de frustrações, de presença, de lágrimas, de missas, de garra e, sobretudo, de serviço e doação. E não é nada fácil ser assim quando, no nosso meio, prosperam os que preferem atuar como maria-vai-com-as-outras, atiradores-de-pedras, jogadores-de-água-fria, amigos-dupla-face... Ana, ao contrário, é mestra – e aqui reside uma outra dimensão da sua santidade – em manter-se à parte deste grupo que atrasa a construção do Reino de Deus, permanecendo fiel à sua consciência, ao seu Senhor e ao seu serviço.
Profundamente mariana – eis outra marca da sua beatitude –, Ana me revelou uma vez, numa reunião de coordenadores, uma visão que tivera: sonhou que uma multidão lhe esperava do lado de fora da Igreja e que ela lhes trazia lá de dentro uma imagem da Mãe Peregrina e a apresentava ao povo como um troféu desejado. Lucidamente, ela já entendia a visão profética que lhe foi revelada: só é discípulo realmente de Jesus, como Maria, quem se atreve, apesar das dificuldades e das tentações do comodismo, a levar sua mensagem também para fora da Igreja, aonde mais se precisa da sua presença transformadora. É fácil demais ser santo durante missa. Manter a coerência com o Evangelho no trabalho, na correria do dia-a-dia, nas tribulações da vida é que são elas. A Ana, posso testemunhar-lhes, tem conseguido isso.
Ela também pertence ao Movimento de Schoenstatt, à Pastoral da Saúde e é Ministra da Eucaristia: serviço que desempenha com profunda reverência e fervor. Mas seu coração bate forte mesmo é pela Juventude. Por isso, peço aos jovens, tanto aos que a conhecem pessoalmente quanto aos que estão tomando ciência da sua experiência agora, e a todas as pessoas de boa vontade que nos unamos em oração pela vida da Ana, desta “santa de calça jeans” que tem sido uma bênção na vida de tanta gente, e por meio de quem muitos jovens têm conhecido e amado Jesus. Neste tempo de preparação à 5ª Jornada Diocesana da Juventude – evento no qual a Ana gostaria muito de estar presente, já que é uma grande incentivadora do Setor Juventude –, unamo-nos como irmãos e peçamos a Deus, pela poderosa intercessão da Beata Chiara Luce, jovem provada na dor, e de Nossa Senhora, sempre Jovem, pela recuperação de sua saúde, que não anda nada bem.
Os grupos de jovens de Barbosa Ferraz nos propõem uma vigília de oração, neste domingo, 29 de maio, a partir das 19h30. Mas, ainda que neste horário não seja possível, que cada um se coloque em atitude de súplica, no grupo, na Santa Missa ou no silêncio do próprio quarto, e peça por ela, que se casou no ano passado com o Sandrinho e que está vivendo uma outra etapa da vida, depois de ter se dedicado inteiramente à evangelização juvenil.
A vida da Ana é um dom precioso com o qual Deus quis nos enriquecer, pelo seu testemunho de vida. Ana é uma santa como tantos outros que, anonimamente, consagram a viçosidade da juventude às coisas de Deus, ao serviço da Igreja, pelo bem de outros jovens.
A santidade não se limita à glória estática dos altares, mas caminha viva ao nosso lado.
Sou um privilegiado. Conheço uma santa...
Força, Santa Ana!
Força, Santa Ana!
Fábio Sexugi
Ola Fábio.. faço suas as minha palavras... na minha caminhada na PJ.. algumas pessoas ficaram marcadas para sempre em minha memoria com coisas boas que passamos juntos e pelo exemplo de vida que me deixaram, e a Ana é uma dessas pessoas que me instiga nessa caminhada e que me faz bater uma força enorme para não desistir de lutar pela juventude.
ResponderExcluirAna que Deus te abençoe e estaremos em oração aqui em Quinta do Sol por você..
Elisângela Nakao
Gente fiz questão de ler todo o texto, isso que é determinação, não há conheço, mas me conquistou pelo modo de viver. 'Santa Ana' forças e melhoras.
ResponderExcluirDe um Pjoteiro de Rondônia